sábado, 13 de janeiro de 2024


 Em breve

domingo, 4 de setembro de 2016

2° Capítulo de alguém mais- Livro de Patrícia Moura



Doce encanto

Já estava de pé e tomava seu café da manhã, quando Cleide entrou na cozinha como sempre muito sorridente:
__ Bom dia Meri?__ dando a volta na mesa onde Meri estava e indo até a pia:
__ Bom dia Cleide. Eu já estou tomando meu café, tudo bem?
__ Mas, claro filha. Fique à vontade.__ e Meri estava. Claramente se sentia muito à vontade o que era estranho, pois nunca se sentiu assim em lugar algum, mas ali naquela casa se sentia como se já estivesse lá há muito tempo. Talvez fosse pelo jeito que fora recebida por todos e a maneira delicada como Felipe a tratava. De qualquer forma gostava de tudo e não queria que acabasse.
   Haviam se passado mais de duas semanas e Meri ainda não tinha conhecido o pai de Felipe. Ela pensava isso enquanto limpava o corredor na frente da porta do quarto dele.
   Todo aquele segredo sobre ele já estava deixando-a irritada. Sabia que ele estava sofrendo. Afinal, perder daquele modo o grande amor de sua vida não era algo fácil, mas ele tinha que pensar no filho.
   Meri não aguentava mais ver Felipe sofrer. Ele estava sofrendo mais que o pai, pois ele tinha perdido a mãe, a irmã, e querendo ou não o pai que tanto amava, mas não porque este estivesse morto e sim por que era um grandessíssimo egoísta e isso a estava incomodando muito. E talvez se o visse, ao invés de pena, sentiria raiva. Meri pensava tudo isso olhando para aquela porta. Como queria que se abrisse agora mesmo. Com certeza lhe diria umas poucas e boas e depois certamente estaria desempregada novamente é claro.

    Assim que acabou com o corredor desceu, precisava terminar agora com a sala do piano que já havia deixado de molho com alvejante.
    Passaram-se quase vinte minutos e Meri continuava de quatro, esfregando o chão, feito em grandes placas de mármore branco.
   Meri precisou subir ainda mais seu vestido do uniforme para ter mais flexibilidade.
   Estava tão concentrada que nem percebeu quando alguém se aproximou da porta onde ela estava limpando.

             Certamente Pietro não a conhecia, mas só poderia ser a nova arrumadeira.
   Não poderia culpar Naná por não mantê-lo a par do que acontecia em sua própria casa se nunca saía do quarto.
   Ele a olhou novamente e viu mais do que queria.
   Naquela posição ela estava exposta e se podia ver suas coxas bem torneadas sobre pêlos dourados. O primeiro botão do vestido se abriu e lhe apareciam as curvas dos seios, perfeitamente arredondados. Os cabelos levemente soltos de um coque lhe davam um ar sensual e por mais que Pietro não tivesse o interesse de olhá-la propositalmente, não poderia deixar de ver.
   Foi aí que ela o viu.
           Nossa ele era grande.
   Foi à primeira coisa que pensou ao ver aquele homem. Meri levantou-se rapidamente e perguntou ofegante:
__ Desculpe, por favor?Eu tô limpando. O senhor quer alguma coisa?
   Era o pai de Felipe só podia ser se pareciam.
   Meri não podia deixar de ver olhando dentro de seus olhos. Realmente era como olhar para dentro de um poço seco, sem fundo e escuro. Não havia mais nada e de repente ela queria chorar, mas não sabia por que se nem mesmo o conhecia:
__ Mi scusa. Io non...__ mas notando que ela não entendia o que estava dizendo, ele parou e disse em português, mas carregado em seu sotaque:__ Desculpe, io non sabia que estavam limpando qui. Scusa.__
   Ele tinha a voz mais linda que ela já havia ouvido e o sotaque o deixava ainda mais lindo.
   Lindo. Cleide tinha razão. Ele era muito lindo. Mesmo com aquela barba e seus cabelos negros, sem corte, que já chegavam à base do ombro, ainda assim era lindo. Meri pensava sem tirar os olhos dos dele e por algum motivo não concebido, ele também não deixou os dela.
    Então ele se foi.
    Meri quase caíu, pois estranhamente seu corpo estava mole. As lágrimas desciam pelo rosto dela sem que pudesse controlá-las. Não sabia agora porque chorava, mas talvez fosse porque podia sentir a dor daquele homem. Não sabia como. Mas podia.
    Ao entrar no quarto e trancar a porta atrás de si, Pietro a viu:
__ Il mio amore. Io desci perchè queria ver mio piano forte. __ viu que seu rosto era de alguma forma diferente e quis saber:__ Tutti bene?
__ A viu?__ a alucinação perguntou e quase que se poderiam ver lágrimas em seus olhos se ela pudesse chorar:
__ Ma quem?__ ela se virou e ele a seguiu.
   Estava preocupado, não poderia perdê-la de novo:__ La cameriera?
__ Prometa que vai ficar longe dela?__ Pietro sorriu sem jeito e prometeu:
__ Prometto. Ma perchè?Quem é ela?__ ele queria entender:
__ Se você se aproximar dela terei que ir embora.
__ No, mi creda. Io sei tuo per sempre. __ e a abraçou fortemente.

   Durante o resto daquele dia, Meri não conseguiu se concentrar em mais nada e agora que já era noite, deitada em sua cama, pensava nele.
   No pai de Felipe. Em seu rosto perfeito, mesmo debaixo daquela barba e sua voz potente e baixa.
   Alguém bateu na porta.
   Felipe entrou:
__ Posso entrar?__ e era bom depois de um dia difícil, vê-lo:
__ Deve.__ e foi o que ele fez. Entrou e sentando-se ao seu lado na cama, beijou-lhe a boca.
   Passaram aquela noite juntos e fizeram amor pela primeira vez. Ela precisava fazer algo para tirar Pietro da cabeça.
   Embora tivesse sua cabeça cheia de pensamentos sobre Pietro, Meri sentia-se plena nos braços de Felipe.
   Não era sua primeira vez, mas sentia como se fosse. As relações que já tivera, haviam sido com meninos pelos orfanatos por onde passara. Sempre sem motivo sentimental e por carência afetiva. Ficava tão amiga deles e tão ligada a eles que acabava por desejar ser algo mais. Queria pertencer a alguém e naqueles momentos era como se sentia.
   Agora com Felipe era diferente. Queria tê-lo. Ele era tão maravilhoso que queria que ele a pertencesse, que fosse dela.
   E o tinha, ela sabia.

   Na manhã seguinte era sábado e todos os empregados estavam de folga, mas Meri não quis sair e aproveitou o dia para cuidar dela mesma. Aqueles cuidados de mulher.
   Felipe a avisou que só voltaria mais tarde, pois tinha algumas matérias para repassar com seus colegas de faculdade.
     O dia passou suave e por várias vezes Meri ficou tentada a subir e bater na porta do quarto do pai de Felipe. Engraçado, até hoje ela ainda não saber como ele se chamava. Ela pensava, e até achava graça disso.
    Meri ligou o rádio. Gostava de música e gostava de dançar.
    Depois de passar descolorante nas pernas, abdômen, bumbum, costas e buço. Ela pôs também massagem nos cabelos e uma touca.
   Meri dançava assim de biquíni e soutien de praia branco. Na verdade o único que tinha.

   A música estava alta quando Pietro chegou à cozinha, buscando algo para comer. O que lhe chamou a atenção foi à música. “Teto de vidro cantado pela cantora Pitty”. Então ele seguiu o barulho e encontrou.
   A porta estava semiaberta.
   Ela estava lá, a arrumadeira. E dançava loucamente.
   Era quase engraçado, Pietro pensou. Não queria, mas teve que admitir que aquela garota fosse muito bonita, mas também muito jovem.
   Ela dançava de um jeito que se ele não soubesse que estava ali por pura curiosidade, acharia que ela sabia que ele estaria ali e dançava para ele. Dançava de maneira sexi, mesmo com todo aquele creme espalhado pelo corpo. Ele observava-a e até se divertiu com isso.
   Pietro esteve ali observando Meri por algum tempo e daí ele saíu.
   Sem comer nada, ele já estava voltando para o quarto quando a música acabou e a porta se abriu.
   Era Naná:
__ Senhor?Deseja alguma coisa?__ quando a mesma música começou novamente a tocar e Naná quase teve um ataque cardíaco:__ Meu Deus o que é isso? Desculpe senhor, ela é nova e...__ Pietro a interrompeu:
__ Non importa Naná.__ ele estava muito abatido e Naná resolveu perguntar:
__ Quer que eu lhe prepare alguma coisa para comer, senhor?
__ Sì, ma, me leve em mia stanza .__ virando-se para sair.

   Algum tempo mais tarde, Naná levou o jantar para o patrão e depois desceu para ter uma conversa com Meri.
     Ela já tinha tomado banho, estava deitada e o som agora, estava baixo:
__ Posso entrar?__ perguntou Naná ao pôr a cabeça do lado de dentro da porta:
__ Oi Naná, claro.__ a mulher entrou e se sentou na beira da cama, sorrindo distintamente:
__ Bom, na verdade eu deveria estar lhe dando uma boa bronca, mas como eu não a avisei, então, quem merece uma bronca sou eu. É sobre a música. Não ouvimos música nesta casa.__ então imediatamente, Meri desligou o rádio:
__ Me desculpe não sabia. Por causa do patrão?__ Meri quase ofegava, não queria lhe provocar mais sofrimento por nada:
__ Sim querida.__ e Naná parou e suspirando continuou. Meri arregalou os olhos, mas nada disse e Naná concluíu:__ O patrão veio na cozinha e ouviu sua música.__ Meri levou às mãos a boca para evitar um grito e depois perguntou:
__ O que ele disse?Mandou você me despedir?
__ Não querida ele não faria isso. Mas precisava ver o rosto dele.__ Naná não notou as lágrimas que já brotavam nos olhos de Meri e continuava:__ Às vezes penso que seria melhor que Deus o levasse...
__ Não!__ e Naná a olhou assustada com tamanha determinação de Meri e viu que ela chorava:
__ Você nem o conhece. Por que está chorando?Você nem mesmo o viu?__ como explicaria a Naná o que nem ela mesma sabia?Meri se perguntava, mas a verdade é que; não poderia cogitar a hipótese dele deixando de existir neste mundo, ele merecia ser feliz. Merecia outra chance e aí é que as lágrimas rolaram com mais força.
   Naná não sabia o que dizer e nem o que pensar.  A mulher parecia ter visto um fantasma:
__ Ele nem sabe que eu existo. Ele nem consegue enxergar ninguém...  Eu só o vi uma vez na vida... Seria impossível, me sentir tão ligada a ele, não é Naná?
__ Santo Deus!__ e pôs as mãos na boca.
__ Me diz que é impossível Naná, por favor?
__ Nada é impossível querida.
__ Eu o vi tão rápido. Num minuto eu estava sozinha, no outro ele apareceu como um anjo caído do céu.  E aí sumiu de novo. Ele me olhou antes de sumir e os olhos dele me prenderam e eu me perdi lá dentro. Estou lá até agora.  Naná?Acho que vou ficar lá pra sempre mesmo que ele nunca consiga me achar lá dentro dele.__ Naná acariciava o rosto de Meri e disse:
__ E Felipe?Ele gosta de você. Vocês estão namorando?
__ Eu gosto dele também. Eu até achei que estivesse apaixonada, mas agora, eu só sinto que tenho que protegê-lo, porque eu acho que é isso que o pai dele gostaria de estar fazendo, mas não consegue no momento.__ Naná passou as mãos pelos cabelos e disse totalmente nervosa:
__ Isso é loucura.__ se levantando para sair do quarto:__Bem, mas amanhã a gente conversa. Vê se não faz nenhuma besteira.__ saindo trancou a porta.

   Felipe chegou, mas queria ver seu pai, então subiu direto, antes de ir ao quarto de Meri.
    Com uma batida na porta, do quarto de seu pai, ele entrou:
__ Pappa?Posso entrar?__ Pietro saía do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e descalço.
   Os cabelos estavam molhados e no auto de seus um metro e noventa e dois, ele fazia muito sucesso com as mulheres, Felipe pensou ao vê-lo e antes de abraçá-lo:__ E aí?__ Pietro sorriu timidamente:
__ Tutti bene, figlio.
__ Tudo bem, pai?__ Felipe perguntou com uma bruta incredulidade:
__ Quello Che mi aspettavo, figlio ?
__ Eu não sei. Talvez acordar desse pesadelo!
__ Anche io .__ Pietro olhava para o chão:
__ Vem cá pai?__ fazendo sinal com as mãos para que eles se sentassem na cama:__ Eu tenho umas coisas pra te contar e, desculpe se não te contei há mais tempo; mas é que às vezes eu chego tarde e às vezes o senhor tá dormindo. Eu conheci uma garota.__ surpreso Pietro sorriu meio sem jeito e Felipe notou que sempre que ele sorria agia como se estivesse fazendo algo errado, mas não comentou:
__ In modo da portare. Invita.
__ Então pai, na verdade eu já trouxe. Ela tá morando aqui em casa. É a Meri...
__ Come?Io non vi?Tem vergonha de tuo pappa?__ Felipe falou logo antes que seu pai continuasse:
__ A nova empregada. A Naná deve ter te dito. Eu tô apaixonado pappa. Ela é linda!__ Pietro ficou ainda mais surpreso. Então não pôde deixar de pensar no que sua alucinação tinha lhe pedido. Será que era por isso?Ele se perguntava, mas não disse nada a respeito:
__ La camariera?
__ É pai. Já a conheceu?
__ Già.__ não queria, mas já. Pensou Pietro, lembrando-se das duas vezes que a viu:
__ Ela não é incrível, pai?
__ Ela... Ti ama?__ Felipe se levantou e ficando de costas para seu pai, respondeu, enquanto Pietro estava apreensivo com a resposta:
__ Eu achava que sim, mas de uns dias pra cá, ela, sei lá. Tá estranha. Então eu pensei que se talvez o senhor pudesse conhecê-la...__ e Pietro já estava de pé e andava de um lado para o outro dizendo:
__ Non.  Quer dizer, perchè?
__ Como por que pai?Você é minha família. Pelo menos ainda é. Eu acho que se ela conhecer o senhor, então vai ter mais certeza dos meus sentimentos. Por favor, faz esse sacrifício por mim.__ lentamente Pietro olhou para o seu filho e depois de um silêncio quase gutural, ele falou numa voz baixa, já arrependido da decisão:
__ Certo ma, non oggi. Outro dia.
__ Mesmo?Tem certeza?Não vai dar pra trás?
__ Non. Até perchè, quem dá pra trás è Cavallo.__ Felipe muito feliz, o abraçou sorridente:
__ Obrigado pappa.__ quando saíu e Pietro trancou a porta.
   Ela apareceu. Sua alucinação.
   Ele não se assustou, porque sabia o tempo todo que ela estava ali:
__ Não vá. Você me prometeu.__ ele andava até ela bem devagar e quando estava perto o suficiente, disse:
__ Tuo sei tutto per me. Io non tenho occhi pra mais ninguém, nenhuma outra. Ti amo, viva ou morta. Non importa.__ e tentava alcançá-la, mas ela se esquivava;
__ Mas você tá vivo.__ e o olhando de esguelha, concluíu:__ E tem necessidades que eu não posso satisfazer. Não que eu seja egoísta a esse ponto, mas... Mas com ela não. Com qualquer outra. Podemos até escolher juntos, mas ela não.__ ele estava espantado, com aquela revelação:
__ Attesa? O que tuo tá me dizendo?
__ A verdade. Até quando você acha que vai conseguir oprimir seus instintos masculinos?Você é de carne e osso.__ e aparecendo ao lado dele, ela falou em seu ouvido, como se lhe lançasse uma maldição:__ Você vai ter que fazer sexo. E não poderá ser comigo.
__ Ma, io solo quero você, mais ninguém.__ ele se desesperou:
__ Estamos falando de sexo e homens. Em determinado momento, fará sexo com qualquer uma.__ ele então, sentou-se na cama, como se quisesse afastar alguma imagem da cabeça:
__ Non... Questo non . Io...__ a alucinação o interrompeu:
__ Você já quer fazer isso. Muito.__ de repente ele estava suando, suas pupilas dilatadas e sua respiração pesada. Sentia-se quente. Pietro passou as mãos pelo cabelo, depois, deitou-se na cama sonolento como se estivesse sobre um feitiço.
   E assim, apagou.
   Meri dançava uma música e sua dança era quase erótica.
   Ela vestia um vestido vermelho que deixava suas curvas em evidência e suas costas pareciam por um grande decote.
   Felipe delirava a cada volta que seu quadril fazia naquele rebolado sexy. Seus cabelos lhe caíam sobre os ombros. Ela era realmente linda.
    Pietro sabia que não deveria olhá-la uma segunda vez, mas seu instinto não o deixou se esquivar.
   Quando finalmente ela o viu, desceu do que agora ele podia reconhecer. O seu piano.
    Felipe a olhava descer e ir em direção a Pietro totalmente sem ação, ao perceber que ela só tinha olhos para seu pai.
   Pietro queria correr quando ela o abraçou, mas suas pernas não obedeciam. Meri o beijou fazendo-o esquecer-se de Felipe presente naquela sala e de repente, estavam tão perto um do outro que ele podia sentir cada parte de seu corpo em seu próprio corpo.
   Ele fechou os olhos se entregando aquela sensação. Quando Meri se virou ficando de costas para roçar seu corpo nele, isso quase o enlouqueceu, mas ao abrindo seus olhos, Felipe já estava ali, abraçando-a também e beijando-a.
   Enojado com aquela cena, ele se afastou e correu, mas ela corria atrás dele.  Pareciam estar em um labirinto escuro, porém ao chegar a uma pequena câmara iluminada, viu que eles, Meri e Felipe estavam lá e faziam amor numa enorme cama.
    Ele queria ir embora, porque vê-los o deixava excitado, mas não só continuou olhando como também subiu na cama e a acariciou de forma sensual.  Ela agora estava nua e Felipe havia sumido.
  E naquele momento era eles faziam amor.
  Somente eles. Pietro e Meri.
  Acordar foi um verdadeiro alívio e uma grande frustração. Pietro pensava, lembrando que há muito tempo não fazia sexo.
   Ele ofegava e transpirava bastante.
    Já era dia e pela primeira vez em dois anos, Pietro não tinha o atormentado pesadelo de perder sua mulher e filha naquele acidente. Pelo menos isso foi bom.
   Depois de um longo banho, Pietro se vestiu e desceu. Tinha fome. Na verdade, estava faminto e disso não poderia fugir. Por mais que não quisesse ver aquela garota, não podia ser prisioneiro em sua própria casa. Então iria à cozinha e comeria alguma coisa.
   Ele desceu e chegando lá, graças a Deus, ele precisou agradecer; não havia ninguém.
   Pietro foi até o armário e procurou por macarrão instantâneo, até porque era a única coisa que sabia fazer pra comer.
   O macarrão ficara pronto e ele sentou ali mesmo para comê-lo.
   Pietro se lembrou de o porquê estava só em casa. Era domingo e aos domingos os empregados só começavam a chegar depois das cinco da tarde e agora era só 13h00min.
   Comeu todo seu macarrão e bebera seu copo de suco de laranja que já estava na geladeira. Continuou sentado ali e isso foi um erro, pensou ele ao notar que a porta se abria.
   Meri entrou e Pietro ficou totalmente tenso, abaixando a cabeça, mas se levantando do lugar para sair dali. Só que antes que ele pudesse sair, ela que esteve paralisada até agora pediu:
__ Espera?__ apenas isso foi o suficiente para fazer com que ele parasse e lentamente se virasse e a encarasse para ouví-la dizer:__ Eu... Precisava falar com o senhor.__ ele nada disse, mas a olhava e isso a estava deixando nervosa:__ É...   Importante, mas se o senhor estiver ocupado, eu falo outra hora.__ Meri estava visivelmente ofegante, ele notou, mas nada disse a respeito: __ Nós ainda não nos conhecemos, mas...
__ Io sono qui. Então fala.__ Ele a interrompeu, um tanto impaciente.
   Deus, de novo, aquela voz linda. Era uma pena, não ser capaz de entendê-lo. Meri pensou.
   Percebendo seu silêncio, Pietro notou então que ela não o entendia, e isso fez com que ele continuasse em português:__ Certo então non fala.__ mesmo falando seu português carregado daquele sotaque, ela o achava perfeito:
__ É sobre o Felipe.
__ Sì?__ mas como ela conseguiria falar assim tão perto dele, sentindo aquele cheiro tão maravilhoso. Ele era mesmo muito cheiroso Meri pensava:
__ Ele tá sofrendo muito. E eu sei que não tenho nada a ver com isso, mas... Bom o caso é que eu acho que o senhor precisava saber.
__ Mi creda. Io troppo. Eu também, ma non há niente que io possa fazer per mudar questo. Scusi.__ Meri pouco entendeu, mas sabia que ele sentia muito:
__ Ele adora o senhor, sabe?Muito mesmo.__ assim como eu também, ela quis dizer:
__ Guarda ? Questo è um assunto de família. E doppo , io me entendo com mio figlio. Mi scusi.__ ele se virou e saiu.
    Meri não conseguíu dizer nem mais uma palavra se quer.

    Pietro entrou no quarto e foi logo ao banheiro, pois precisava refrescar-se com água gelada. Não era possível estar se sentindo daquela forma em relação àquela garota totalmente desconhecida para ele. Seu corpo estava quente, de maneira que o suor lhe escorria pelo rosto.
   Pietro deixou que a água gelada, da torneira da pia o esfriasse. Não era só seu corpo que estava quente, mas também a mente parecia não funcionar direito.
    Dez minutos mais tarde, ele ainda estava no banheiro. Quando saiu, entrou no quarto e ela estava atrás dele e ele se virou para poder vê-la.
__ Mande-a embora.__ ordenou sua alucinação, falando perto do ouvido dele:__ Ela o destruirá. A você e ao nosso filho.__ ele se virou bruscamente, antes de dizer:
__ Ma, nostro figlio está apaixonado e io non quero que sofra.__ ela passou as mãos em volta do pescoço dele e concluíu:
__ E você acha que ele não vai sofrer, quando descobrir que o pai dele anda tendo certos sonhos com a mulher que ama?__ e um enorme desespero tomou conta de Pietro. Como ela sabia do sonho?Ele se perguntou e tentou se defender:
__ Non. Io non consigo controlar mio sognos . Io non queria...  Ainda non quero questo .__ de repente, como se colocassem as imagens do sonho em sua cabeça, Pietro começou a lembrar de tudo e o calor estava de volta, ascendendo todo seu corpo e isso era desesperadoramente cruel. Além disso, ele sempre pensou não ser mais possível sentir-se assim com relação a nenhuma outra mulher, que não fosse, Lúcia. Amava-a tanto hoje mesmo estando morta, quanto amou há vinte anos. E tinha tanta certeza disso, como poderia se sentir tão atraído por uma mulher que mal conhecia? Ainda mais, sendo ela namorada de seu único filho?Eram perguntas que borbulhavam em sua mente, mas que ele não poderia deixar que viesse à tona:
__ Ele não vai querer saber disso. Olha como você está?Olha bem como você fica só de lembrar-se dela?Ele vai te odiar quando pensar que o próprio pai o traíu.__ aquelas palavras cruéis o torturavam. E pensar em seu filho como o inimigo, era terrível. Ainda mais terrível, era pensar em sua esposa, sabendo de sua traição; mesmo que não tivesse controle sobre isso. Era uma dupla traição e por conta de tudo aquilo se sentia sujo. A pior espécie de homem.
   Sua cabeça doía tanto que ele se sentia tonto. Tão tonto que precisou sentar-se na beira da cama para não cair. E uma batida na porta atraiu sua atenção:
__ Entra.
    Felipe entrou e Pietro se levantou rápido para ir até ele e abraçá-lo. Felipe se surpreendeu, mas apenas disse:
__ Wow... Que recepção boa. E aí?Como o senhor está?__ como sempre, Felipe estava preocupado.
   Parecia que eles tinham mudado de lado. Felipe era o pai e ele seu filho.
   Pietro pensou entristecido:
__ Io sono bene. Perchè?__ ambos se sentaram na beira da enorme cama, lado a lado:
__ Eu vim lembrá-lo do nosso trato, lembra-se?__ na verdade Pietro não se esquecera, ele gostaria que Felipe esquecesse, mas ao que parecia ele não esqueceu; e pior, o estava lembrando agora:
__ Non, io non esqueci.
__ Isso é muito bom, mas... O que o impede de cumpri-lo?__ Pietro ficara sem jeito com a direta do filho:
__ Estava contando que você se esquecesse. Ma, io vou cumprir, domani na hora de pranzo .
__ Almoçaremos juntos?__ Pietro lhe estendeu a mão esquerda e completou quando Felipe a apertou:
__ Insieme .__ Felipe, então beijou o rosto do pai, lhe sorrindo e saíu.
   Quando Felipe saíu, Pietro voltou o rosto na direção onde a alucinação de Lúcia estava. Ela esteve ali todo o tempo, mas só Pietro podia vê-la:
__ Não deixe que ela o engane também meu amor, ela é perigosa. Proteja nosso filho.__ andando até ele, o abraçou.
   Pela manhã, Meri acordou Felipe com um beijo no rosto, porque apesar de tudo, tinha muito carinho por ele. E além do quê, ela não poderia realmente embarcar naquela loucura de aceitar se apaixonar pelo pai dele. Ele era aquele típico cara proibido. Jamais a olharia com outros olhos que não fosse do patrão para a empregada e por tanto jamais seria dela, então para que enfiar os pés pelas mãos?
   Fora o que Meri pensara ao decidir continuar seu namoro com Felipe:
__ Acorda moço?Já são oito e trinta da manhã e eu trouxe seu café.__ Felipe achou que estivesse sonhando, mas ao sentir o cheiro de pão quente com manteiga, seu estômago roncou e ele soube que não era um sonho.
   Beijou Meri nos lábios e começou a se sentar na cama. Estava no quarto dela, aliás, já estava se tornando costume ele dormir no quarto de Meri. Havia sido assim desde que eles começaram a namorar de verdade:
__ Como é bom acordar com você!Que isso nunca acabe.__ ele dizia enquanto apanhava a bandeja das mãos dela e depois apanhava o pão:
__ O quê?
__ Você comigo. Eu te amo Rosemeri!Eu nunca pensei que pudesse amar alguém assim. Agora eu consigo entender o que meu pai sente pela minha mãe. Ele vai amá-la pra sempre.__ ouvir aquilo, tinha sido o mesmo que cravassem uma faca bem no meio do coração dela.
   Meri quase que não conseguia respirar de tanto que aquilo doía; e não só pelo fato de que Pietro jamais amaria outra mulher, mas também por saber o quanto Felipe a amava mesmo sem que ela merecesse:__ Igualmente, eu acho que vou te amar pra sempre.__ e a beijou demoradamente, depois bebeu um gole de café.
   Meri saíu do quarto com o estômago embrulhado. Mal podia respirar e andar também era difícil e meio tonta ela correu até a casa de Naná, pois ela tinha ido até em casa, do outro lado, atrás da piscina.
   Ao chegar à porta, bateu e logo lhe abriram. Era Danila, a filha de Naná:
__ Eu... A Naná, por favor?__ disse Meri tentando manter a calma:
__ Você está bem?__ Danila percebeu logo, que Meri não estava se sentindo bem:
__ Sim eu...__ perdendo a consciência em seguida.
   Meri desmaiou.

   Após alguns minutos, Meri voltou à consciência e já estava no sofá de Naná, mas assim que despertou se ergueu para abraçar a senhora que estava debruçada em sua frente:
__ Naná eu tô perdida!__ Meri abraçava Naná com força sem se dar conta da presença de Danila e Tiago, o filho de Naná, que Meri ainda não conhecia, mas que ajudou a colocá-la no sofá e ainda se encontrava ali, olhando-a com certo interesse:
__ Calma querida. Danila, Tiago, nos dêem licença.__ e ambos a obedeceram:__ Agora com calma, me diga o que aconteceu.__ Meri respirando fundo, tentou se acalmar antes de começar a falar:
__ Felipe disse que me ama.__ Naná ainda a olhava como se a esperasse começar a falar, até se dar conta de que ela já havia falado:
__ Mas, isso é ruim?Não é melhor assim?Por favor, querida, me diga que você é mais esperta que isso e tire qualquer outra história da cabeça, e que sendo assim, é melhor que seu namorado a ame.__ Naná sempre ficava muito nervosa quando ouvia Meri falar de suas dúvidas e nem sabia bem ao certo por que:
__ Naná eu não acho que sou capaz de amá-lo como ele merece e não quero também que ele sofra por minha causa. Eu não quero.__ começando a se agitar de novo e chorar, enquanto dizia aquilo:
__ Querida eu tenho certeza de que ele vai te conquistar. Felipe é bonito, carinhoso, inteligente e poderá te dar uma vida confortável porque o patrão é com certeza, muito rico.__ e Meri ficou olhando para Naná e pensando que talvez, ela por ser uma mulher muito mais experiente, tivesse razão, mas achava que seria quase impossível esquecer os olhos Pietro. Aquilo já tomava grande proporção em sua vida.

     Felipe chegou na hora exata para o almoço. Sentando-se a mesa que já estava servida. Então perguntou:
__ E meu pai Naná?__ antes que Naná pudesse responder e até mesmo vê-lo, o próprio Pietro respondeu:
__ Io sono qui . Prometto e cumpro!__ sentando-se em seu lugar:
__ Que bom pai. Eu fico muito feliz em poder almoçar com o senhor.__ Naná terminou de servir Felipe e foi logo serviu Pietro:__ Naná preparou sua comida preferida. Polenta à bolonhesa.
__ Sì. Grazie Naná.__ tocando de leve a mão que o servia para que terminasse de por o prato:
__ E a Meri Naná?Onde está?__ dando falta de sua namorada:
__ Está lá dentro.__ tentando ser o mais natural possível:
__ Chame-a. Quero apresentar minha namorada ao meu pai. O senhor se importa pappa?__ Pietro tentou não demonstrar sua preocupação com a situação, mediante a tudo que tinha ouvido de sua alucinação, sobre aquela proximidade. E até onde se conhecia, não permitiria que aquela mulher destruísse seu filho. Sentindo-se atraído por ela ou não.
   Então estaria preparado para desmascará-la:
__ Se cosa vuoi .__ sem olhar para Felipe que nem percebeu o tom cortante de seu pai:
__ Então vá chamá-la Naná?Peça que venha se sentar a mesa com agente.__ Felipe estava muito satisfeito com seu pai e sorria.
   Ao contar para Meri. Naná viu em seu rosto o quanto aquilo a assustava.
   Estar no mesmo ambiente com os dois era um pouco demais para ela:
__ Eu não vou Naná. Eu não posso ir. Não vou saber me comportar.__ Meri estava muito aflita, mas não pelos motivos que mencionava.
__ É?E vou dizer o que?Vamos? E fale o menos possível.__ estendendo a mão direita para Meri:
__ Eu não vou conseguir...__ mas cedeu e tomando a mão de Naná, se levantou e a seguiu.

      Felipe se levantou assim que viu Meri, mas seu pai nem ao menos levantou os olhos para cumprimentá-la:
__ Pappa, quero apresentar Meri oficialmente para o senhor como minha namorada.
   Quando Pietro levantou os olhos para olhar para Meri, ela se arrependeu imediatamente de ter ido até aquela sala. Seus olhos eram mais escuros que o obitual e pareciam querer desmanchá-la, tornando-a cinzas. Ele não dissera nada, fazendo somente um sinal com a cabeça:
__ Sente-se amor.__ fazendo sinal com a mão direita para que se sentasse em sua frente e ao lado de Pietro:__ Bom, eu acho que preciso dizer que, vocês são a minha família e que estou muito feliz em tê-los na minha vida. Pai, essa é a mulher que eu amo.__ Pietro limpou a boca com o guardanapo lentamente, tomou um pouco de vinho tinto, depois de girar a taça por um instante e disse bem calmo:
__ Mio figlio te ama. Você ouviu questo?__ Pietro fez aquela pergunta, mas alguma coisa dentro dele queria que aquilo fosse mentira. Um engano e, no entanto lutou contra aquele pensamento veemente.
   Diabólica disse a si mesmo, enquanto uma ira crescente se erguia sobre ele, querendo tirar a máscara daquela mulher:__ E você?Anche ... O ama?
   Meri olhou bem dentro daqueles olhos que mais pareciam poços sem fundo e não conseguiu responder. As lágrimas queriam soltar-se de seus olhos, mas Meri tinha que segurá-las dentro dela, se não, se entregaria:__ Não sabe a resposta?Ou não o ama?
   Felipe estranhava aquela atitude em seu pai, sempre tão educado com os outros. Mesmo com sua dor, nunca havia destratado qualquer um que fosse. Por que isso agora?Ele pensou antes de pedir que seu pai se retratasse:
__ Pai o que é isso?
__ Niente . Só uma pergunta, ela não pode responder?__ e em todo tempo ele não tirou os olhos dela, prendendo-a:
__ Ela não precisa!Isso não é uma prova, ela não tem que mostrar nada para o senhor.__ Meri não podia dizer nada, não podia abrir a boca, pois corria o risco de dizer que amava a outro homem. Por isso não poderia amar Felipe. Então, teria que dizer que era a ele que amava.
__ Claro que non. Ma, attenzione figlio .__ libertou seu olhar do dele, quando olhou de volta para Felipe e concluíu:__ Sarò nella mia stanza. __ se retirando da sala em passadas firmes e pesadas.
   Felipe, determinantemente não havia gostado da maneira como seu pai se comportara com Meri e resolveu ir atrás dele.
   Com batidas fortes na porta do quarto de seu pai.
   Felipe entrou:
__ O senhor não tinha o direito de falar daquele jeito!
   Pietro que inicialmente estava de costas para Felipe e virou-se lentamente para ouvir o filho falar. Mas logo se irou e o respondeu com firmeza, cortando sua linha de pensamento:
__ Io tive e io tenho o diritto de fazer o que bem quiser em La mia casa. Per favore?Tuo nem a conhece. Come pode estar tão appassionati?
__ De quanto tempo o senhor precisou para se apaixonar pela mamãe, pappa?
__ Non ha senso! Come pode comparar essa Donna com tua mama?__ Felipe sabia que tentar convencer seu pai de algo era quase impossível, mas se ao menos pudesse fazê-lo entender o quanto amava e precisava de Meri, já estaria de bom tamanho:
__ Pai. Entende, por favor, uma coisa?Eu a amo!E nada vai me afastar dela, então... Vê se tenta aceitar pelo menos, já que pelo visto, o senhor não vai conseguir gostar dela?__ aquilo fora como um bom tabefe na face para Pietro.
   Felipe não só amava aquela garota, como também achava que ele não gostava dela. Pietro engoliu seco e depois de olhar nos olhos do filho, disse:
__ Io non disse, que non gusto dela. Ma io lamento que mio figlio tenha se metido AL centro das pernas dela.__ Felipe não entendera muito bem o raciocínio de seu pai, mas ainda assim o respondeu:
__ É. Mas isso é muito bom pai. E é realmente uma pena que o senhor não esteja verdadeiramente vivo, para se lembrar do quanto isso é bom. Estar no meio das pernas de uma mulher.__ dando as costas para seu pai, Felipe saíu do quarto. Pietro estremeceu, ao vê-lo sair porque a verdade é que aquilo era exatamente do que se lembrava, ao olhar para aquela garota. E ele precisava desesperadamente esquecer-se disso. Pelo menos com ela.


Lindo demais